O Caso Dreyfus: Um Conto Espírita. Trabalho Ficcional. Em Processo, Sem Revisão.
O Caso Dreyfus: Um Conto Espírita. Trabalho Ficcional.
Paris, inverno de 1898.
A neve silenciosa caía sobre os telhados da cidade, enquanto dentro do apartamento de Émile Zola, o fogo da lareira lançava sombras vacilantes sobre pilhas de papéis e manuscritos. Zola permanecia sentado, olhos fixos nos rascunhos de seu manifesto — J’Accuse! — que poderia abalar os alicerces do poder.
As dúvidas o consumiam. O medo da perseguição, da difamação e da violência o fazia questionar se sua voz seria suficiente para fazer justiça. A pressão era sufocante.
Naquela manhã, chegou uma carta. Um envelope modesto, com a caligrafia firme e conhecida de Maurice Lachâtre — editor, socialista, e pensador à frente do seu tempo, que também caminhava entre as sombras da luta política e do espiritismo.
Zola abriu a carta com uma mistura de curiosidade e cansaço:
“Caro Émile,
O caminho que você escolheu é árduo, e a escuridão que enfrentamos parece quase intransponível. Mas lembre-se: a coragem não nasce da ausência do medo, e sim da convicção inabalável da verdade.
Sei que a justiça parece distante, mas a sua palavra pode ser a chama que ilumina essa noite escura.
Não desista. A luta pela verdade é a luta do espírito contra a mentira.
Conte comigo, mesmo que distantes, nesta caminhada pela liberdade e pela justiça.
Maurice Lachâtre.”
Zola guardou a carta com um suspiro, sentindo que aquelas palavras lhe davam força, mas não dissipavam as dúvidas que lhe assolavam.
Naquela noite, sozinho no escritório, o ar ficou súbita e estranhamente frio, como se o tempo tivesse hesitado.
De repente, uma figura surgiu, luminosa e majestosa — o espírito de Victor Hugo.
— Émile — chamou, a voz grave e serena —, por que hesitas? A injustiça não espera, e teu silêncio alimenta as trevas.
Zola recuou, um misto de medo e incredulidade lhe travando a voz.
— Um espírito? Victor Hugo? Eu, homem de ciência e razão, estou sendo visitado por fantasmas? — murmurou, quase em súplica.
— Não te peço que abandones a razão, mas que escutes a voz da consciência. A defesa de Dreyfus é mais do que um ato político; é a luta pela alma da França — respondeu Hugo, seus olhos brilhando.
Zola desviou o olhar, o conflito interno tornando-se quase insuportável.
— E se minha luta for em vão? E se eu for destruído pelo poder que combato? — desabafou.
— A coragem não é a ausência do medo, Émile — disse Hugo, com ternura —, é a decisão de agir apesar dele.
O espírito começou a desaparecer, a luz se dissipando no ar frio da noite.
Zola ficou sozinho, o coração pesado, mas com uma faísca acesa dentro de si.
Ele tocou a carta de Lachâtre, sorriu com tristeza e determinação, e finalmente pegou a pena para escrever.
A história da França estava prestes a ser transformada por sua voz — guiada pelas palavras vivas de um velho amigo e pelo espírito de um gigante que, mesmo além da morte, ainda lutava pela justiça.
Maurício Menossi Flores
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