"O Romance", Conto de Nina Ferraz, Psicografado Por Maurício Menossi Flores.

 


O Romance
(conto em processo, sem revisão)
Os cadernos não ficaram intactos. Foram utilizados de maneira displicente, abusiva. Ficaram subutilizados. Capas arrancadas, páginas rabiscadas.
Que adiantava, agora? Começar um romance? Lixo para os aterros? Papel para reciclar?
Vivia em função de manter a pressão sanguínea normal, de maneira natural. Era evidente o fumo atrapalhar e contribuir no agravamento do problema. Deixou de fumar em prol de viciar na leitura de livros, sem ficar corcunda.
Os novos vizinhos , antes de chegarem, já incomodavam. Deus desse paciência e dedicação no propósito de deixar a carcaça velha, sem estar preso a inimigos. Eles não mereciam tanta atenção. Perda de tempo era ficar gravando vídeo, comentando, fazendo BO, reclamando, etc.
Porra!
Estava repetindo-se!
Até um guerreiro precisava dar basta nas guerras repetitivas. Deixar a mão mais solta o possível e olhar pouco para o texto em processo. Deixar fluir.
Importavam a legalidade, a compreensão, a compressão, o estilo?
Voltou ao início.
Voltou ao início?
Voltou ao início!
Voltou ao início...
Deus!
Espera. Espera. Espera. Dizia o relógio.
Ai, ai, ai, ai...
Interpretava ele.
"Eu vejo aminha sombra em degradê, projetada por várias fontes."
Algo a deixava assim. Simetria imprevista no resto de folhas arrancadas, caidas no chão da sala.
Chão é de terra?
Ali era piso.
O dedo mindinho agarrava-se a espiral do caderno, recusando-se participar do crime de escrever o que se pensa. "Isso é crime!"
Clarice Lispector fala de que, em "A Paixão Segundo GH"?
Lera as primeiras páginas e esquecera o tema.
O quanto era metido?
Lá na biblioteca, exibindo-se. Ler em público, silenciosamente, é atentado ao pudor.
Pronto, encontrou tema ameno para o conto.
Alguns romances curtos triunfaram...
Caramba, novo dilema!
Outro grande tema. Mas qual seria o tema da sua vida?
O tema da sua vida era...
Não conseguia responder. Naquele momento, andava preocupado com o de sempre. Ganhar dinheiro e saber da próxima existência.
Criou dieta especial. Sem necessidade de gordura, açúcar, sal. Muito adequada a quem não precisa sentir o sabor, só encher a pança.
Escrever para não ser lido é prazer proibido. Diário secreto escrito em um dia. Uma vida compilada. Desejo insatisfeito sendo saciado no caderno. Colocou uma capa bacana. Igual aquelas feitas por prima criada junto. Tristeza da constatação da própria pobreza. Não sentir orgulho de ter sido pobre é o segredo dos ricos.
Publicar. Não teve muito retorno de tanto. Poderia comentar os comentários. Melhor, deixou para lá.
Haveria ali maior propósito em produzir texto para justificar tanto orgulho? Não era. Tomava consciência do Poder Divino.
Sentou-se, em banqueta, junto à porta de entrada do apartamento e sucessão de espíritos vieram ditar frases desconexas e fragmentos de histórias.
Tic-tac, tic-tac, tique-taque.
Livro de arte.
Descrever, descrever, descrever, descrever a descrição.
Como era cansativo escrever a fim de aprender.
Aprender o artigo, estudar o vocábulo.
Análise, análise, análise, TOC.
Não queria falar no orgulho ferido.
Criança, criança, criança. Dinheiro maldito.
Falta de capricho.
Produziu muitos tipos de letras para vender.
Tinha dieta em processo, por ele mesmo criada. Tinha um final para o conto longo.
No café da manhã, uma broinha de farinha e ovo. Sem sal, sem fermento. No almoço, arroz branco. Sem sal.
Muita água. um café puro, sem açúcar.
Naquele ponto, interrompeu algo legal dizendo ser inoportuno, indo onde não era apreciado.
Queria ser diferente. Diverso. Estava imaginando, na verdade, Lembrando de algo, da infância, início da adolescência, puberdade, dizia, como aluno aplicado.
Lembrou daquilo e, no dia seguinte, a realização do desejo. A sua vida poderia mudar ali, naquele instante. Embora não atinasse na coincidência, muito menos, nas consequências, naquele momento.
Aquele fenômeno de apagamento, no qual colocaria tudo a perder era suicídio.
Comprou o livro "Memórias de Um Suicida", da Yvonne Pereira. Ao ir embora, na despedida, foi enlevado por voz profunda. Despedindo-se, também.
(Nina Ferraz, psicografia de Maurício Menossi Flores)


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