Conto "O Homem do Telhado", De Maurício Menossi Flores.
O Homem do Telhado.
(Conto em processo, sem revisão.)
O telefone tocou com a insistência de quem trazia notícias urgentes. No
terceiro toque, Renato atendeu, ainda meio grogue do sono interrompido. Do
outro lado da linha, a voz de Vera, nervosa e entrecortada:
— Renato! O André... ele... está preso num telhado.
Renato franziu a testa, certo de que ainda estava sonhando.
— Num telhado? Como assim? É alguma pegadinha?
— Não! Ele tentou atravessar os telhados para chegar mais rápido ao clube.
Não sei o que passou pela cabeça dele, mas agora está preso. Você precisa vir!
Desligou sem dar tempo para mais perguntas. Renato ficou estático por um
instante, tentando absorver a situação. André sempre fora excêntrico, mas essa
superação da realidade beirava o absurdo.
Meia hora depois, Renato chegou ao local indicado por Vera. Uma pequena
multidão se formara na rua, olhando para cima. André estava lá, de fato, no
alto de um telhado de zinco, segurando uma antena de TV como se fosse o mastro
de um navio.
— André! — Gritou Renato, ao lado de Vera. — O que você está fazendo aí?
— Eu achei que seria mais rápido! — Respondeu André, com a voz atravessando
o ar abafado da tarde. — Mas não pensei que o telhado fosse tão instável.
Renato segurou o riso e a impaciência.
— Desce logo antes que você caia!
— Eu estou preso! A telha aqui cedeu, e meu pé ficou encaixado. Vocês
precisam de um plano para me tirar.
A situação ganhou ares surreais quando um gato preto atravessou a cumeeira
com a elegância de quem está em casa. André tentou empurrá-lo com a mão livre,
mas o animal apenas o encarou, como se julgasse sua incompetência.
Enquanto isso, Vera sugeria ligar para os bombeiros, mas André protestou:
— Nada disso! Eu tenho minha dignidade. Se os bombeiros vierem, isso vai
parar nos jornais!
A multidão à medida que crescia, não ajudava. Crianças apontavam e riam. Uma
senhora rezava, convencida de que André era uma espécie de louco peregrino,
tentando se aproximar de Deus pelos telhados. Um vendedor de pipoca apareceu,
vendo ali uma oportunidade de negócio.
Renato, finalmente, subiu em uma escada improvisada, tentando dialogar de
perto.
— André, me dá sua mão. Eu vou puxar você.
— Cuidado com a telha! Se ela quebrar, vamos os dois cair!
Era um verdadeiro balé desajeitado. Quando finalmente André foi retirado do
buraco, caiu sentado no telhado, exausto.
— Nunca mais... nunca mais faço isso — murmurou ele, enquanto desciam
juntos, sob aplausos e risadas da plateia.
Ao pisar o chão, André olhou para Renato com um meio sorriso:
— Pelo menos foi rápido.
Renato balbuciou uma resposta, mas acabou rindo junto. Naquela cidade, onde
o cotidiano já era suficientemente estranho, André acabara de acrescentar mais
um capítulo às histórias impossíveis que o tempo não deixaria esquecer.
Maurício Menossi Flores
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