Conto "A Arte Como Experiência", De Maurício Menossi Flores.

 


Arte Como Experiência.
(Conto em processo, sem revisão.)

Era uma manhã nublada, mas isso não desanimava Tomás. O curador, com seus 45 anos de entusiasmo pela arte, percorria as salas de um antigo casarão transformado em centro cultural. Era lá que ele planejava realizar a "Exposição da Experiência", um evento para celebrar o Dia da Expressão Criativa, uma data que ele mesmo ajudara a estabelecer em sua cidade natal. Inspirado pelo livro Arte como Experiência, de John Dewey, Tomás sonhava em oferecer ao público uma vivência imersiva, onde a arte não seria apenas contemplada, mas vivida.
A proposta era ousada: instalações interativas, performances ao vivo, pinturas que convidavam o toque, e esculturas feitas de materiais recicláveis que se transformavam com o passar das horas. Para Tomás, a arte deveria ser sentida como um processo vivo, uma ponte entre o humano e o transcendente.
Contudo, nem todos compartilhavam sua visão. Em uma sala ao lado, membros de uma comissão conservadora da cidade se reuniam em murmúrios contidos, trocando olhares preocupados. Entre eles, destacava-se Raul, líder de um grupo que via na exposição uma ameaça aos "valores tradicionais". Para Raul e seus seguidores, a interatividade proposta era um convite à banalização da arte e à desordem social.
Naquela tarde, enquanto Tomás coordenava a montagem das obras, um bilhete anônimo chegou em suas mãos. A mensagem era direta e ameaçadora: "Pare a exposição ou enfrentará as consequências." Ele sentiu um arrepio, mas escolheu não se deixar intimidar. Ao invés disso, reforçou sua crença de que a arte era o melhor antídoto contra o medo e a ignorância.
Reuniu sua equipe e compartilhou o ocorrido. A jovem Sofia, uma artista performática, sugeriu transformar as ameaças em parte da exposição. "Se eles querem calar, vamos responder com mais expressão", propôs, com um brilho nos olhos. Foi assim que surgiu a ideia de um mural coletivo, onde visitantes poderiam escrever suas próprias respostas à intolerância.
Enquanto os preparativos avançavam, a tensão também crescia. O grupo de Raul planejava sabotar o evento na noite de abertura. Um manifestante infiltrado espalhou boatos de que haveria um ato de vandalismo, o que levou parte do público a hesitar em comparecer. Ainda assim, Tomás manteve-se firme, buscando apoio na comunidade artística e em grupos locais de defesa da cultura.
No grande dia, a cidade acordou em suspense. A praça diante do centro cultural encheu-se de curiosos, apoiadores e também de opositores. Tomás subiu ao palco improvisado para dar as boas-vindas. Suas palavras eram calmas, mas carregadas de paixão:
"Hoje, celebramos não apenas a arte, mas a coragem de sentir, criar e compartilhar. Dewey nos ensina que a arte é experiência, e experiências nos tornam mais humanos. Que este seja um espaço de encontro, não de separação."
Assim que as portas se abriram, uma corrente de energia atravessou o espaço. Crianças corriam entre as instalações interativas, idosos tocavam esculturas que pareciam sussurrar histórias, e jovens pintavam no mural coletivo frases que exaltavam liberdade e criatividade.
Raul e seus seguidores, inicialmente à margem, hesitavam. A vibração da exposição parecia minar seu ímpeto. Alguns começaram a caminhar pelo espaço, talvez movidos pela curiosidade. Em dado momento, Raul parou diante de uma instalação onde visitantes falavam em microfones e suas vozes eram transformadas em padrões visuais projetados na parede. Ele ouviu um menino dizer: "A arte é a alma que a gente coloca no mundo." Pela primeira vez, Raul não tinha resposta.
A noite terminou sem tumultos. A exposição não apenas aconteceu, mas tornou-se um marco na cidade. Tomás, ao ver o público indo embora com olhares brilhantes, sentiu que havia vencido mais do que ameaças. Ele havia mostrado que a arte, quando vivida como experiência, tinha o poder de transformar até os corações mais endurecidos.
Na semana seguinte, o mural coletivo foi transferido para a praça central, onde se tornou um símbolo da resistência criativa. E, ironicamente, uma das frases mais fotografadas era de Raul: "Entendi que sentir também é um valor."
Maurício Menossi Flores

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