Conto "O Investigador Paranormal de Sessenta Anos de Idade". De Maurício Menossi Flores. Em Processo, Sem Revisão.
O Investigador Paranormal de Sessenta Anos de Idade.
(Conto em processo, sem revisão.)
O investigador paranormal de sessenta anos de idade cozinhava a carne na pressão e cozinhava quiabo com chuchu na panela normal. No rádio, a repórter mostrava como a passagem dos blocos de carnaval, em bairros de São Paulo, perturbavam o sossego. Contudo, só entrevistava quem gostava dos blocos, não os incomodados. Esses que se mudem...É o mundo. Um alivio, a morte. Fazendo a cabeça dos tolos. Pois é. Não duvidava que ainda virasse velho deslumbrado.
A vida inteira quis contato comprobatório com o além, com o depois. Tédio nunca sentira. Desanimava, às vezes. Publicava os resultados das investigações, mesmo sendo sempre negativos. Seu blogue era bastante visitado e comentado, apesar de não apresentar um caso se quer de autêntica manifestação de espírito desencarnado. Munido dos conhecimentos transmitidos por Kardec, seu mestre, fora, desta vez, apurar as aparições em sede de fazenda do século XIX, em cidade do interior de São Paulo.
Quando desembarcou na rodoviária, o anfitrião mostrava-se ansioso por vê-lo. No caminho para a fazenda, John Wilker Jr., senhor jovem e educado, conversava com Felisberto Noronha, o investigador paranormal. Prestando atenção na estrada de terra batida, dirigia seu automóvel falando da propriedade recém herdada e dos planos para ela. Alterou-se emocionalmente quando a conversa se objetivou nas aparições. Seria caso para psicólogo ou psiquiatra?
A sede era descomunal. Dezessete
quartos! Apesar de centenária, estava em boas condições de habitação, inclusive
com móveis e utensílios bem conservados e tudo muito limpo e arrumado. Viviam na
fazenda, como caseiros, casal de idosos. Eram sexagenários como o investigador
paranormal. Um pouco mais de idade talvez. Não demonstravam abatimento ou
problemas de saúde, muito pelo contrário. Falantes, porém não intrometidos,
mostravam-se dispostos e prontos no cumprimento do dever assumido no trabalho.
Após acomodarem-se, foram
caminhar pelos arredores, até o jantar ficar pronto. John mostrava-se otimista
com a hospedagem que ali abriria, fazendo planos de impulsionar a cidade
culturalmente, pois era herdeiro também de vasto patrimônio artístico,
colecionado e produzido pela avó materna. Noronha, como gostava de ser chamado,
sentia a mente mais aberta, por efeito do ar puro. Ouvia o contratante
atentamente, visualizando exposições e encontros literários descritos pelo
jovem professor.
Manoel e Ana trabalhavam para a família Wilker há quarenta anos. Quando se casaram, mudaram-se para a fazenda e, ano após ano, foram conquistando a confiança dos patrões, tornando-se, na condução da imensa propriedade, os braços direito dos donos.
John e Noronha, antes de saírem para o passeio, foram avisados por eles, pelos caseiros: a refeição da noite seria servida às 18h. Após esvaziarem uma garrafa de vinho tinto, John comentou as aparições vistas pela casa. Era, na verdade, luz fraquinha, mas ele tinha certeza tratar-se de espírito de morto, porque essa luz parecia querer falar com ele... Nisso, ouviram alguém chamando:
- Escutou isso, Noronha?
- Sim. Parece que o caseiro quer
falar com você.
- Não é voz dele. Parece
voz de mulher.
- Então talvez a senhora Ana...
- E por que não chamou novamente?
Os sentidos do investigador
paranormal aguçaram-se. A adrenalina correu-lhe pelas veias e
artérias. Pediu licença a John e foi até a frente da casa, tentando divisar algo de incomum. A lua iluminava o terreiro e o céu coalhava-se de estrelas, aos poucos, com a adaptação dos olhos. Ficou
por ali uns dez minutos e nenhum "vaga-lume" demonstrou interesse em prosear.
Voltou para perto de John e sugeriu que fossem dormir.
Às três horas da madrugada, Noronha
foi acordado com John sussurrando perto dele. O investigador tentou fixar a atenção no que o jovem dizia e mostrava.
Realmente, luz minúscula esverdeada pairava sobre os dois, parecendo querer chamar a
atenção. Permaneceu acesa por instantes e sumiu. Seria um sonho? Ao amanhecer,
depois do café, Noronha pediu a atenção de John. Estava quase certo dos
fenômenos dali serem de natureza paranormal. Se havia algum
espírito por detrás daquilo, o jeito seria uma sessão espírita para tirarem a
dúvida. Não era um método ainda comprovado cientificamente, pelas exigências atuais, mas seria caminho
plausível.
Na segunda quarta-feira do mês
seguinte, Noronha e John voltaram para a fazenda. A sessão seria simples,
somente Noronha, John, Ana e Manoel. Sentados sem volta de uma mesa, Noronha fez prece
inicial, pedindo auxílio aos bons espíritos. Depois da oração coletiva, o Pai Nosso, Noronha
proferiu palavras sinceras dirigidas aos espíritos de luz, na
evocação daquele sofredor. Após breve silêncio, ouviram batidas. Noronha
falou com suposto interlocutor:
- Querido irmão, bendita irmã, por favor, tente
comunicar o seu desejo.
Mais batidas. Luz esverdeada começou a materializar-se no canto escuro sul da sala, mal iluminada por uma vela somente, sobre a mesa. Veio daquele canto o "rap". Como da outra vez, pareceu sonho instantâneo, mas quase uma hora havia se passado a partir do início da sessão. Noronha constatou isso consultando o relógio de pulso. Silêncio. A pequena névoa verde esvanecera-se.
John, de olhos fechados, mediunizado, falou com
voz aflita:
- Por favor, encontrem o meu
corpo.
Todos da mesa sobressaltaram-se.
- Cavem no rumo da luz...
A voz de John foi-se apagando, extinguindo-se.
O dono da casa abriu os olhos e
Noronha perguntou como ele se sentia (flagrantemente John era médium com várias aptidões). Disse estar cansado, com o corpo pesado e moído.
O pesquisador dá a sessão por encerrada, agradecendo aos bons espíritos o
sucesso no trabalho da noite.
Em seu blogue, Noronha divulgava o caso com
grande sucesso. Seguidores do mundo inteiro queriam saber se conseguira fazer
imagens da materialização. Ele dizia que não, por questões técnicas, restando o testemunho dele e de mais três pessoas. Para alguns
pesquisadores, isso era conversa fiada de fascinado. Outros diziam estar escondendo o leite, vendendo as fotografias mais caro, futuramente. Outros, conhecedores da seriedade de Felisberto
Noronha, o pesquisador paranormal, acreditavam nas suas declarações. Não seria
aos sessenta anos de idade que ele poria na lama sua reputação, construída com
décadas de esforços árduos.
Noronha pediu a John hospedar-se na fazenda até o caso ser resolvido. Durante um mês, procuraram
informações maiores da fazenda e do lugar, consultando jornais passados e conversando
com antigos moradores. Se havia um espírito rondando a propriedade, deveria ter
algum motivo e ser próximo da família. Enquanto isso, vasculhavam o lado sul
da fazenda, conforme fora apontado pelo suposto espírito.
O herdeiro Wilker, em conversa com
dono de bar, no centro na cidade onde ficava a fazenda, soube do
desaparecimento de uma garota há cinco anos. Durante semanas procuraram na
mata. Nunca a encontraram. Alguns falavam em rapto praticado pelo próprio genitor,
visto rondando a casa onde a menina morava com a mãe separada do marido, o pai da
adolescente. Diziam, ainda, talvez, onça, comum na região, ter devorado a moça. John contou a história para Noronha, fazendo os olhos dele brilharem.
Nesse meio tempo, não houve novas
manifestações significativas. Uma ou outra pancada, vultos de relance. Tentaram
segunda sessão espírita sem grandes novidades. John balbuciou algumas palavras desconexas.
Ficou nisso.
Através de uma planta antiga, percebeu, no lado sul, faltar algo no espaço do entorno da sede da fazenda. Vasculhando melhor o local, notou demolição
de construção, onde se colocava o sarilho para a corda do balde. Havia
vestígios de tijolos. Perguntou a Manoel, o caseiro, qual fora o fim daquilo. Devido
à água encanada, disse Manoel, com o pouco uso, o poço fora aterrado por ele.
Pensando na história da moça sumida, Noronha pediu para John mandar
remover a terra do poço. Às 15h, do dia 22 de março de 2024, na cidade ..., a Verdade
resolve mostrar a cara. Pelo estado do achado, percebia-se serem roupas
femininas, de pessoa jovem. Daí, pode-se deduzir...
John Wilker Jr. pagou a Felisberto Noronha, o investigador paranormal, o dobro do
prometido. Embora algo tão trágico ter acontecido na fazenda, o inusitado da
história até ajudou na divulgação do espaço cultural a se formar. A história estava esclarecida. Manoel, o caseiro, esposo de Ana, raptou e violentou a garota, jogando-a no poço. Confessou após capturado, em perseguição por três meses, pelo nordeste
brasileiro.
Felisberto Noronha, pesquisador
paranormal, com sessenta anos de idade, conseguira um caso certamente autêntico
de manifestação espírita. Procurara pela vida toda. Quem procura acha.
(Deuz, O Gato. Psicografia de Maurício
Menossi Flores)
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