Conto "Triste Fim de Nunesbelo Fragata, Professor do Próprio Curso". De Maurício Menossi Flores.
Triste Fim de Nunesbelo Fragata,
Professor do Próprio Curso.
Conto em
processo, sem revisão.
No Centro de Urussurunga, vivia o
último ser humano preocupado com barulho, sujeira e falta de educação. Onde ver,
pela TV, bandos de noias destruírem automóveis, nas cracolândias, virou diversão,
bares e restaurantes ou colocarem caixas de som em forte intensidade, ou promoverem
shows ao vivo com algazarra, era fichinha.
Em golpe de mestre urussurunguense, certos
comerciantes, comandados por políticos profissionais e pelo crime organizado, liberaram
geral a perturbação do sossego, apoiados, falsamente, em lei municipal prevendo
o fechamento dos estabelecimentos após às 23h, sendo essa própria também
relaxada. A Secretaria do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Urbano fazia
vistas grossas. Com a PM – Polícia Militar de Urussurunga não atendendo
ocorrências de Perturbação do Sossego e com o Ministério Público não
investigando nada, estava formado o caldo primordial.
Triste constatação do pobre
artista plástico que buscara refúgio até onde sabia ser razoavelmente tolerável,
do ponto de vista civilizatório. Como TOC, aquelas ideias fixaram-se em sua
mente, igual chiclete em cabelo. Viraram obsessão. Sua tolerância diminua a medida que a
sua sensibilidade aumentava. Antes tivesse se mantido um corcunda beijando o
chão de tanta falta de consciência corporal!
Enquanto produzia artefato para
decorar escola, a pedido de uma professora amiga, selou compromisso consigo de alhear-se.
Mal sabia estar, dessa maneira, desencadeando reação em cadeia de
desemparelhamento! Era como um motor do qual a energia elétrica tivera
interrupção brusca.
Rapidamente, o inferno de uma
fogueirinha suportável, ainda, tornou-se forno micro-ondas. No princípio, os pássaros
enlouquecidos, matando-se atirando-se em paredes, despertaram a curiosidade só
de alguns. Os cães tornando-se raivosos e mordendo 80% mais que o normal,
preocuparam outros tantos. Ruim mesmo ficou quando crianças começaram a
suicidar-se em massa.
O primeiro caso registrado foi
exatamente no Centro de Urussurunga. Certa manhã, estavam lá na praça. Os
detalhes de como ali chegaram e de como conseguiram esfaquear-se umas às outras,
daquela forma, apareceram aos poucos, quando a botoaria baixou. Eram 60 crianças
e adolescentes. Para os mais místicos e conformistas, tudo não passava do
cumprimento das profecias do Apocalipse. Para os mais pragmáticos, grande
oportunidade de negócios. Trataram logo de bolarem cursos e oficinas, a fim de
venderem para a Secretaria de Cultura de Urussurunga. O prefeito promoveu
grande show milionário, prometendo arrecadar alimentos e roupas para as
famílias vitimadas.
Quando a generalização dos casos,
por todo o país, era anunciada, inclusive, no New York Times, Nunesbelo Fragata perecia na cama, deprimido. Falecera o professor do próprio curso (na verdade aulas particulares para o Ensino Médio). Morreu cantando igual o João Gilberto:
“Se você disser que eu desafino amor...
Só privilegiados têm ouvidos iguais ao seu...”.
(Nina Ferraz, psicografia de
Maurício Menossi Flores)
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